NAKED FRIENDS

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NAKED FRIENDS

As duas palavras que compõem o título deste livro definem, de imediato, o que se segue: naked friends. Não necessita de uma tradução, mas o significado da expressão torna o contexto ainda mais amplo: há uma cumplicidade na nudez que se apresenta aqui.


Ale Ruaro busca construir uma imagem fotográfica que desnuda o universo feminino e ao mesmo tempo esconde o que a nudez, geralmente, revela. O corpo fotografado torna-se o objeto de desejo dele mesmo: há uma relação intrínseca entre a mulher que ali está e a construção de sentido que essa imagem produz, algo que acontece no ato fotográfico e que torna o criador, mais um espectador, assim como nós.


O olhar curioso procura e encontra algo mais, para muito além de outros conceitos manifestados nas relações entre o nu e a nudez como o  erotismo, a censura, a vergonha ou o pudor. Corpo e cenário se fundem numa simbiose visual entre figura e fundo, como se o corpo fosse parte da existência do lugar. Mesmo nos descontextos, o corpo ali se integra: corpo-pedra, corpo-árvore, corpo-água, corpo-cidade, corpo-carne, corpo-vazio, corpo-corpo.


Mas, “a fotografia mente”, diz o fotógrafo catalão Joan Fontcuberta. E na fotografia de Ale Ruaro, a realidade escondida diariamente sob os panos da vida comum e cotidiana dessas mulheres, cria uma ficção poderosa: nenhum padrão de beleza é fechado, todo corpo tem o seu próprio padrão, ímpar. As mulheres que aqui se despem, cobrem-se do olhar do outro, num instante raro e profundo, completamente verdadeiro, mas também, verdadeiramente falso.


E se o corpo feminino é a inspiração para muitos poetas, o fotógrafo aqui também faz poesia visual, em cada corpo, em cada parte revelada...ou escondida. Longe dos espelhos, a fotografia estende o reflexo da vida. O corpo é matéria que concretiza uma existência, que sustenta o que é invisível aos olhos, mas que ali está.


Assim, NAKED FRIENDS, apresenta um pequeno rasgo do olhar construído em mais de vinte anos de atividade de um fotógrafo que transita no limite entre o registro e a construção artística de uma ficção.


Enfim, o que vemos? Um livro para ser visto com olhos bem abertos ao que está e ao que não está ali, para colecionar imagens de uma percepção estética revelada em cada corpo, muito além da fotografia.



Silvana Boone

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